Nona Parada: Vamo quebrar tudo!
Texto escrito em 17 de Março de 2007
A reportagem dessa semana vai mostrar um local conhecido por muitos, mas que para alguns ainda é uma incógnita: a famosa Vila de Paranapiacaba. Hoje conhecida internacionalmente pelo seu festival de inverno, a Vila de Paranapiacaba é um patrimônio antigo construído pelos ingleses e que permaneceu obscuro por muitos anos na visão do poder público, tendo sido posteriormente “arrematada” pela Prefeitura de Santo André. Embora essa intervenção seja recente, moradores e ONGs como a SPR-Paranapiacaba já cuidavam em manter a organização da vila, embora a falta de recursos e visibilidade já tenha vetado a realização de diversos projetos, pelos quais ainda se luta até hoje.
Como sempre tentamos algo diferente, nós desbravadores resolvemos fugir do conhecido glamour dos finais de semana e do Festival de Inverno para apresentar o que é a vila num dia comum da semana. Quem vê 15, 20 mil pessoas andando na rua em dias de festival não sabe o que é encontrar uma vila vazia, com menos de meia dúzia de pessoas passando pela rua e uma calmaria que estamos longe de encontrar igual.
Apesar do calor escaldante e do “sol de rachar mamona”, conseguimos percorrer alguns pontos turísticos interessantes do local, dividido entre as partes alta e baixa (Vila Martin Smith). Dentre os principais estão a Igreja, construída em 1889, o Clube União Lyra Serrano, fundado em 1903 e o Castelinho, datado de 1897, que era a residência do engenheiro chefe da São Paulo Railway e que hoje foi transformado em museu, constituindo-se no segundo museu da vila (o primeiro é o Museu do Funicular, num galpão das linhas de trem).
Pudemos também nesta viagem conferir de perto o trabalho da SPR-Paranapiacaba, uma das maiores ONGs da região, fundada em 1989 e que visa preservar o patrimônio histórico, cultural e natural da Vila. A SPR, que significa Sociedade de Proteção e Resgate, fazendo uma paródia da empresa fundadora da vila em sua sigla (São Paulo Railway), está presente na organização dos eventos anuais que a vila promove (que não se resumem ao Festival de Inverno que tanto se divulga) e inclusive no monitoramento das trilhas para grupos de pessoas que querem conhecer o lugarejo. Na diretoria da ONG, entre outras pessoas, temos o ambientalista Osmar Losano e o atuante casal Zélia Paralego e Pedro, todos moradores da Vila.
A visita durante a semana também serviu para mostrar um problema crônico enfrentado diariamente pelos moradores e por quem trabalha na vila e que discutiremos nas próximas linhas...
O Bairro:
Paranapiacaba, antes denominada Alto da Serra, teve sua pedra fundamental lançada em 1860, quando da construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, propulsora do desenvolvimento de São Paulo na época. Suas características de vila não mudaram muito até então.
A vila está localizada a 40km de São Paulo e faz parte dos 58% do município de Santo André localizado em área de preservação ambiental, numa área que não possui ligação física direta com a parte urbana da cidade.
Estando por lá durante a semana, pudemos sentir o ar bucólico do local, pois o movimento é muito pequeno, principalmente na parte alta. Na parte baixa há uma movimentação um pouco maior, mas nem isso faz com que se perca o ar tranqüilo que paira sobre a vila. Indo um pouco além da parte baixa, vemos que o local também é procurado pelos amantes da natureza, já que oferece uma boa quantidade de trilhas com paisagens maravilhosas, algumas inclusive com belas cachoeiras. Há também por ali um caminho que liga Paranapiacaba à vila vizinha de Taquarussú, já pertencente ao município de Mogi das Cruzes (local onde nós também pretendemos ir em breve e relatar a vocês). Além disso, existem áreas fechadas que abrem para visitação apenas em dias previstos, como é o caso do Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba, onde além de diversas fontes há exemplares maravilhosos de nossa fauna e flora.
Lendo as placas colocadas em frente às casas, predominantemente de alvenaria na parte alta e de madeira na parte baixa, vemos os serviços que as casas oferecem. Há muitos ateliês residência, alguns comércios que só abrem em dias de grande movimentação e outras coisas, como pequenos empórios, bares, padaria... Além das pousadas um serviço interessante é o de “Bed and Breakfast”, em que algumas famílias oferecem pernoite e café da manhã a preços módicos a quem quer amanhecer naquele paraíso.
Já que os mosquitos não nos davam trégua, resolvemos sair à busca de um lugar para parar e, aproveitando a deixa, almoçar, pois nossa situação já estava periclitante. Antes, porém, pudemos matar nossa sede numa fonte de água natural e deliciosa, localizada quase na ponta da passarela da vila, e que permanecia quase gelada mesmo sabendo que se jogássemos um ovo no chão ele era capaz de fritar.
O local escolhido para o nosso almoço foi o tradicional “Bar da Zilda”, um lugar muito aconchegante e que serve uma comida muito boa a preços convidativos. Interessante foi observar como eles exploram o fruto do cambuci, usando-o para curtir pinga, para fazer suco, mousses e até em outras receitas. No ano passado, o Bar da Zilda foi o vencedor do Festival de Comida de Botequim, concurso realizado pela Prefeitura de Santo André.
Tudo estava lindo e maravilhoso até que se iniciasse nossa volta, e com ela os problemas. Chegamos ao ponto final das duas linhas de ônibus que servem o bairro (040 e 424) às 15h10, preparados pra pegar o próximo ônibus rumo a Santo André (que sairia às 15h45, conforme o cronograma). Até aí estaria tudo muito bem, se o tal ônibus não tivesse parado um ponto antes, desembarcado os passageiros e dado meia volta, deixando cerca de 20 passageiros pra trás. A solução seria pegar o próximo que, também conforme o cronograma, sairia só às 16h45.
No meio da confusão, alguns passageiros desistiram de esperar e resolveram pegar um ônibus da linha 424 até o centro de Rio Grande da Serra, que já estava 2 horas atrasado. Na esperança de que não demoraria muito nosso ônibus, continuamos esperando um da linha 040, que chegou por volta de 16h35. Pasmos ficamos ao ver que ele chegou, desembarcou os passageiros e foi embora, sem dar satisfação alguma àqueles que o esperavam!
O número de pessoas esperando pelo ônibus já havia aumentado consideravelmente e um grupo mais revoltado já pensava em atacar o ônibus em protesto ao abuso que sofreram indiscriminadamente. Sofreram e sofrem, porque, segundo apuramos com alguns moradores, transtornos como este são mais comuns do que a gente imagina. Acabamos pegando o ônibus apenas às 17h30, duas horas e vinte minutos depois de nossa chegada ao ponto. O coletivo, felizmente, seguiu magnânimo até nosso destino, mas todos estavam enfurecidos com o atraso e a desordem. Esteve nos acompanhando e tentando solucionar nosso problema o pesquisador André, que trabalha para a viação concessionária dos ônibus. Ele fez o que pôde, sem sucesso, mas merece nossos cumprimentos.
O Trajeto:
Nosso encontro esta semana foi em frente à Estação Santo André, onde pegamos um ônibus da linha 040 e seguimos até Paranapiacaba, passando pelo Centro, Vila Alzira e Vila Homero Thon,
Lembramos que semana que vem é a última matéria da primeira fase dos Desbravadores do ABC, mas não paramos por aí. Novidades virão em breve, temos muito o que desbravar ainda...
Ao fim de mais uma matéria, não esquecemos de fazer a recomendação que é nossa marca registrada: Faça como o ABC Bus e os Desbravadores do ABC: Conheça sua cidade!
Notas:
Para saber mais sobre o trabalho da ONG SPR-Paranapiacaba, acesse o site: http://www.paranapiacaba-spr.org.br/ ou ligue (11) 4439-0194
A Petrobrás está patrocinando um grande projeto de uma outra ONG da Vila, a Mãe Natureza. Além de cursos e palestras, isto incluirá a impressão e o lançamento de 5000 exemplares de um livro sobre a história da Vila, escrito pelo ambientalista e jornalista Vicente Lamarca.
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